Mucambo reafirma a força econômica do artesanato

Ao lado do filho, Maria das Dores segue na arte da tecelagem ( Fotos: Marcelino Júnior )

Foi ainda na adolescência que Maria das Dores Damasceno, 50, teve contato com a tecelagem. Na época, a máquina de tear adquirida pela família para a confecção de redes trouxe a oportunidade, não apenas de ocupação nos momentos livres, mas também uma outra forma de sustento, somada à agricultura de subsistência.

Com o tempo, entre uma rede e outra, Maria das Dores namorou, noivou, casou, deixando para trás, não apenas a casa dos pais, mas também a tecelagem, sua grande paixão. Cerca de 30 anos depois e com os filhos já criados, o desejo pela arte falou mais alto e a dona de casa Maria das Dores resolveu retomar sua antiga atividade.

Em abril deste ano, a artesã criou coragem, encomendou uma máquina de tear doméstica, feita em madeira rústica, ainda de forma artesanal, ao valor de R$ 400, comprou rolos de fios variados, arregaçou as mangas e pôs a criatividade à prova.

Os primeiros trabalhos foram confeccionados para casa mesmo; até que, aos poucos, as encomendas foram chegando, aumentando, e o tempo foi ficando curto para dar conta de tantos pedidos.

E, mesmo hoje dividindo os afazeres domésticos com o artesanato, aos poucos, as peças vão ganhando forma e textura, à medida que a máquina vai tecendo fio a fio uma rede, tapete ou o chamado "jogo americano", conjunto de pequenas toalhas de mesa, geralmente fabricada em tecido, plástico ou palha trançada, onde se colocam prato, talhares e copo. Além de ornamentar o ambiente da refeição, o conjunto mantém limpa a toalha de mesa principal.

Custo

De acordo com a artesã, tudo isso é paixão, mesmo. "Não me vejo fazendo outra coisa na vida. Passei muitos anos parada, mas sempre com aquela vontade de voltar a mexer com a tecelagem. Além da alegria de ver uma peça pronta, tem ainda a saúde, pois como a máquina de tear tem dois pedais, é uma maneira simples de manter a forma", brinca Maria das Dores, enquanto pedala a estrutura de madeira, e vai passando rapidamente um fio após outro, com a lançadeira, peça também em madeira que vai dando forma a mais um tapete, que ganhará um toque especial com ajuda do filho da artesã, que viu nessa arte uma forma de criativa de ganhar dinheiro.

Após um curso de serigrafia, Fábio, 23, passou a pintar as peças. "Após o curso, eu tive a vontade de criar algo que pudesse ter uma renda. Então, ela produz os tapetes e eu finalizo com a pintura. Um kit, com 3 tapetes, custa R$ 40", disse. O valor de uma rede feita no tear varia entre R$ 100 e R$ 150.

Economia


O município de Mucambo, na Zona Norte do Ceará, com cerca de 17 mil habitantes, ainda tem na tecelagem em tear manual a principal fonte de renda, quando o assunto é artesanato. A arte, herdada dos antepassados, já chegou a ser o principal recurso econômico da região, com a confecção da rede tipo Carnutim, que mescla três tipos de panos, com fios de algodão. Com a chegada do tear industrial, há cerca de 50 anos, a queda na produção foi inevitável.

Mas, a partir de 1997, com capacitação de pessoal e diversificação de produtos, a atividade ressurgiu, incentivando outras possibilidades de produtos feitos à mão, reforçando a economia local, que fica entre a agricultura familiar e o contracheque do serviço público. Entre os apreciadores do artesanato local, estão os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Rio Grande do Sul.

Madeira

Mas não é só da tecelagem que a força do artesanato de Mucambo se faz presente. A criatividade também aproveita materiais variados como forma de expressão, que vão desde o desenho a mão livre, ao crochê, passando pela costura, confecção de delicadas peças em barro, até a arte da marcenaria.

E o maior representante desse tipo de trabalho é Marcos Antônio de Souza que, desde criança, se encantou com a marcenaria e sustenta a família, até hoje com essa arte.

Francisco de Assis Ferreira Neto trabalha com orgulho ao lado do pai, que o incentivou na arte da marcenaria

"Eu me emociono a cada peça criada a partir da madeira. Sempre aproveito o que a natureza oferece para ser transformado. Minha maior alegria é ter meu filho ao meu lado", afirmou, enquanto preparava mais uma peça com ajuda do filho, Francisco de Assis Ferreira Neto.

"Desde os meus cinco anos, eu já observada meu pai trabalhando e busquei aprender. Hoje, com muito orgulho, trabalhamos juntos na mesma arte, que eu quero passar para meus filhos, assim como aconteceu comigo", se emociona.

Feira

O renascimento do artesanato local, com a valorização que ele merece, só foi possível com 15 anos de experiência e empreendedorismo do artesão Gilmar Martins de Souza, que investiu na atividade e luta pelo reconhecimento dos artistas locais. O Município realizou, nessa semana, a I Feira de Artes e Negócios de Mucambo, apoiando lojistas e outros diversos segmentos.

O Município realizou, nessa semana, a I Feira de Artes e Negócios de Mucambo, apoiando lojistas e outros diversos segmentos


"O objetivo, segundo Gilmar Martins, "é tornar esse evento reconhecido além do município. Porque valoriza o que Mucambo tem de melhor, que é seu artesanato, e abre espaço para o empreendedorismo e o crescimento da economia", firma Gilmar, que exerce a função de secretário de Cultura do Município.

Para Francisco Aguiar, o Canarinho, prefeito de Mucambo, "estamos satisfeitos com as parcerias, inclusive com o Sebrae, que tem capacitado e valorizado as atividades realizadas aqui. Com certeza, a Feira de Artesanato fará parte do nosso calendário de eventos, pelo menos, uma vez por mês", garantiu.



por Marcelino Júnior - Colaborador
Diário do Nordeste

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