Os clientes que terão a conta medida a cada dois meses serão avisados, segundo a Coelce, por cartas, leituristas ou pela própria conta Foto: Kléber a. gonçalves. |
Anunciada recentemente pela Companhia Energética do Ceará (Coelce), a mudança na forma de leitura do consumo de 900 mil clientes, que passará a ser feita de forma bimestral (a cada dois meses), a partir de fevereiro, somente para o Interior do Estado já gera dúvidas e levanta questões sobre possíveis demissões. De acordo com o Sindicato dos Eletricitários do Ceará (Sindeletro), "cerca de 30% dos leituristas das empresas que prestam serviços para a Coelce poderão ser demitidos em breve", tendo em vista que a frequência da leitura será menor.
"Os consumidores já começaram a receber cartas informando sobre a mudança na forma de leitura. Assim, acreditamos que, tão logo ocorra a mudança, serão feitas demissões. Em nossa avaliação, as demissões deverão ocorrer, no máximo, em março, uma vez que uma parte dos trabalhadores deixará de ter atividades. Não tem como demorar muito. Já recebemos muitas informações de trabalhadores que estão apreensivos com isso", diz o diretor administrativo do Sindeletro, Fernando Avelino.
Procurada pela reportagem, a Coelce emitiu uma nota oficial sobre a mudança no sistema de leitura, no entanto, não confirmou nem negou o percentual de possíveis demissões informado pelo Sindieletro.
A Companhia limitou-se a dizer que "a leitura bimestral está de acordo com regras estabelecidas pela Resolução 414/2010 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Distribuidoras de outros estados já utilizam esse tipo de faturamento". O diretor do Sindeletro, contudo, destaca que a mudança não se justifica, uma vez que a leitura mensal já vinha sendo feita normalmente nesses domicílios e que a tarifa de energia paga pelos consumidores cearenses, definida pela Aneel, já leva em conta todos os custos da Companhia, inclusive os gastos com pessoal.
"Se essas residências ficassem em lugar muito distante, de difícil acesso, justificaria a mudança bimestral. Mas hoje essa leitura já é feita mensalmente. Então, não justifica modificar. Além disso, nós pagamos uma tarifa que já leva em conta todos os custos da Coelce (inclusive os custos com a leitura mensal e com o pessoal), então, não justifica modificar a forma de leitura e não dar, por exemplo, nenhuma contrapartida ao consumidor", reforça Fernando Avelino. "A tarifa de energia foi pensada com os custos anteriores. Agora, quando os custos serão reduzidos, ela (a Coelce) não vai pedir para reduzir a tarifa para o consumidor", enfatiza.
Para o Sindeletro, a adoção da leitura bimestral para 900 mil cliente da zona rural cearenses "só tem um propósito: reduzir custos com pessoal para garantir os lucros da empresa sem quaisquer vantagens para trabalhadores e consumidores".
A Coelce, em resposta ao declarado pelo sindicato, reforça o discurso de ter a mudança fundamentada em resolução da Aneel. No Ceará, os cerca de 900 mil clientes da zona rural que passarão a ter o novo modelo de faturamento estão sendo informados via de cartas, leituristas e pela própria conta de energia".
Coelce afirma que faturas continuam em 12 mesesEm nota, a Coelce destaca que, no novo processo de leitura, "o cliente continua recebendo 12 faturas ao longo do ano e seus vencimentos não serão alterados. Ou seja, o faturamento continua mensal e apenas a leitura passa a ser bimestral. Nos meses em que não houver medição, o faturamento terá como base a média dos últimos 12 meses.
Caso haja alguma distorção para mais ou para menos no faturamento por média, o valor será ajustado no próximo ciclo de faturamento. Esse processo não ocasionará nenhum impacto para os clientes em relação aos seus vencimentos, que serão mantidos mensalmente. A mudança em nada altera o valor da tarifa de energia elétrica".
Horário das agências
Se um consumidor tiver dúvidas, contudo, poderá encontrar mais dificuldades em resolver a questão, uma vez que, conforme denuncia o Sindeletro, a Coelce irá reduzir o horário de atendimento em 117 agências do Interior do Ceará. "A maioria dessas agências possui apenas um funcionário que, segundo fomos informados, já receberam um comunicado de que sua carga horária e seu salário será reduzido", afirma o diretor do Sindeletro.
"Isso sem falar no atendimento ao consumidor, que antes tinha flexibilidade para escolher um horário que fosse melhor para ser atendido, o que não será mais possível agora. Antes, o consumidor tinha o dia todo, agora, só terá meio dia. É claro que o atendimento não poderá ser bom. Só vemos isso como uma redução de custos para a Coelce, algo que não trará benefício nenhum para trabalhadores e consumidores", completa Fernando Avelino. Sobre a possível redução no horário de atendimento em 117 agências, a Coelce, mais uma vez, não confirmou nem negou. Afirmou apenas, em nota, que "a definição do horário de funcionamento das lojas está prevista no Art. 180 da Resolução Normativa 414 da Aneel".
Fonte: Diário do Nordeste